terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

HONRE A PALAVRA, PRESIDENTE!

Luiz Inácio falou: "Lá no cantinho do céu, Chico pode ter certeza de uma coisa: nós vamos prosseguir sua luta ainda com mais força, nos campos e nas cidades, para libertar o país de uma vez por todas desses jagunços e seus mandantes, escondidos na selva e nos gabinetes."
Como se não bastasse o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Mae Stang, em Anapu, no sábado, mais dois assassinatos foram registrados no Estado do Pará.

Cláudio Matogrosso, liderança da gleba Manduacari, também foi assassinado em Anapu, no mesmo distrito onde Dorothy foi vitimada. E o sindicalista Daniel Soares da Costa Filho foi assassinado no município de Parauapebas, sudeste do estado.

O presidente Lula, a quem cabe a palavra final sobre um plano de trabalho articulado de forças federais e estaduais para solucionar o conflito no Pará, encontra-se em viagem ao Suriname e promete antecipar a volta em nove horas.

Lula já foi advertido na segunda-feira, em Carta da Sociedade Civil, que "se o governo não for capaz de estabelecer sua autoridade na região agora, sem mais tardar, antecipando-se a novos assassinatos, correrá o risco de passar para a história como o campeão da violência rural, da grilagem de terras públicas e do desmatamento ilegal".

O assassinato de Dorothy Stang já não é o mais recente entre os cerca de 125 que vitimaram lideranças e apoiadores dos movimentos sociais rurais durante o governo de Lula, sendo que aproximadamente 40% desse total ocorreram somente no Pará.

Para resolver a escalada de violência e a impunidade reinante no país, sobretudo na Amazônia, bastaria Lula cumprir a promessa que fez em depoimento ao site Chico Mendes.

Ou será que temos que esquecer o que Luiz Inácio falou? Leia o depoimento:

“Chico talvez nem soubesse o que queria dizer ecologia e muito menos holocausto ecológico quando começou sua romaria pela floresta para organizar a peãozada dos seringueiros - primeiro, no sindicato dos trabalhadores rurais e, mais tarde, para criar o PT.

Nessas caminhadas pela mata, ele acabou juntando numa bandeira só a luta ecológica, a luta sindical e a luta partidária, porque sabia que elas são indissociáveis, uma alimentando a outra no mesmo ciclo da vida na floresta.

Quando estive pela última vez em Xapuri, no Acre, antes da tragédia da véspera do Natal, para ajudar na campanha do Chico a prefeito, em 1985, a barra já estava pesando. Os fazendeiros do centro-sul do pais que tinham invadido a região não escondiam de ninguém que ele estava marcado para morrer.

Logo o Chico que foi um dos mais apaixonados defensores da vida que já conheci, um homem tão puro e tão limpo como a água da chuva da mata que foi sua companheira inseparável.

Para honrar seu sacrifício e o de outros tantos companheiros, chegou a hora da nação dar um basta. O povo brasileiro não admite mais ser humilhado, massacrado, dizimado como a Amazônia.

Não, não basta pôr na cadeia quem apertou o gatilho só para dar uma satisfação à opinião pública mundial. Chegou a hora de romper com todo este sistema corrompido e arbitrário que municia as mãos assassinas e que nas últimas duas décadas promoveu um intenso processo de concentração da terra e da renda.

Lá no cantinho do céu, Chico pode ter certeza de uma coisa: nós vamos prosseguir sua luta ainda com mais força, nos campos e nas cidades, para libertar o país de uma vez por todas desses jagunços e seus mandantes, escondidos na selva e nos gabinetes”.

3 comentários:

ALTINO MACHADO disse...

Jornalista Charlene Carvalho, da Tribuna, manda o seguinte comentário:

Altino, teu blog está com matérias super legais, parabéns. O enfoque que destes ao assassinato da irmã Dorothy merece nosso reconhecimento público, pois o caso é grave e, no meu caso, faz lembrar um Acre de bem pouco tempo atrás. Também gostei muito da abordagem do caso das moças anoréxicas, de maneira sensível, mas enfatizando a gravidade do problema. E puxão de orelha no Lula, então?
Um abraço,
Charlene

Valeu, Charlene! Vou acrescentar aqui o comentário que fiz em resposta a outros elogios que li na Caverna da Lua de Saturno:

Hummmmmmmmmmmm! Não sou acostumado a receber elogios. Mas gostei dos que li aqui. Continuo achando que essa "brincadeira" de blog no Acre vai resultar em algo mais sério do que já está. Bem, agradeço as recomendações para leitura do blog e aproveito para indicar o endereço aos demais "desocupados": http://altino.blogspot.com/. Parabéns, Astro e Toinho pela perseverança. Aqui vai um puxão de orelha no deputado Moisés Diniz, que tem sido deselegante com leitores dele. Caro "cordeirinho", quem sabe um dia eu volte a reativar os comentários. Por enquanto, prefiro ficar espiando o contador de visitas. Sei que estou escrevendo para um público reduzido, mas é um público seleto e influenciável. Diferente do que acontece com o jornal, pelo menos ninguém consegue se "alimpar" com o que escrevo no blog. E a verdade seja dita: o culpado de tudo isso é o Toinho Alves. Ele vai prestar contas com Deus por causa disso, Astro.

ALTINO MACHADO disse...

Comentário do economista acreano Mário Lima, professor da Unicamp:

Caro Altino, a luta pela terra fez, faz e ainda fará mais vítimas. Lamentável que uma liderança forjada na luta operária desloque o tratamento de mais uma morte no campo para os limites das questões policiais. Não dá para deixar de nos associarmos a tua indignação. Uma irmã da freira morta, no velório, disse que "Dorothy não seria enterrada. Dorothy seria plantada. A luta continua".

Conclui um artigo que publiquei sobre o assassinato do Chico dizendo que "Chico Mendes será lembrado como um defensor das transformações solicitadas pela realidade contemporânea da humanidade, será um herói do seu tempo. Seus assassinos e cúmplices integrarão o lixo da história".

Chico, hoje, integra o Panteão da Pátria. Lula, ao que parece, desistiu da trajetória que o projetou.

Um abraço

Mário

ALTINO MACHADO disse...

ERRATA

Caro Altino / sou professor da PUC/SP. Na Unicamp desenvolvi meu programa de doutorado e estudos e pesquisas no NESUR - o último sobre redes urbanas no Brasil. / Ab Mário