quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

O BICHO VAI PEGAR


O compositor João Donato e o governador Jorge Viana mantiveram hoje demorada conversa ao telefone. Como diria Donato, o bicho vai pegar: ele vai dirigir em breve, no Acre, uma oficina musical promovida pela Fundação Elias Mansour.

Em junho do ano passado, quando esteve aqui, Donato disse a Viana que tinha um velho sonho: homenagear sua terra com uma rapsódia - peça musical de forma livre que utiliza geralmente melodias, processos de composição improvisada e efeitos instrumentais de determinadas músicas nacionais ou regionais.

Como o governador prometera que faria o que estivesse ao seu alcance para que o músico pudesse se dedicar à realização do projeto, Donato telefonou para ele hoje.

A conversa começou assim:

- Alô, Jorge. Aqui é o João Donato. Tô ligando direto pra você porque não teria graça se tivesse ligado para a Graça, a sua secretária.

- Quanto prazer, João. Você é o velho mais jovem e extravante da música popular brasileira que eu conheço.

- Tô ligando direto porque amo você, Jorge, o governador mais velho que eu conheço.

A partir da oficina de música, Donato deverá percorrer comunidades indígenas, ribeirinhas e de seringueiros nas florestas acreanas. Do contato mais demorado com as origens acreanas, quer extrair elementos para a composição.

Donato começou tocando sanfona na Rádio Difusora Acreana, nos anos 40. Na década seguinte se tornou precursor da Bossa Nova e depois morou nos Estados Unidos, onde tocou com os maiores músicos de jazz.

Ele ganhou da cantora Marisa Monte uma sanfona. “Ela tentou aprender sanfona, mas achou que não evoluiu muito e então me deu o instrumento de presente”, disse.

Está disposto, durante a fase de pesquisa, a tocar sanfona para as populações mais remotas do Acre. Desse projeto, deverá resultar um CD duplo e apresentações da rapsódia nas principais capitais brasileiras e até no exterior.

A música de João Donato faz muito sucesso no Japão, onde seus shows costumam atrair grande público. “Eles gostam da minha música porque são índios”, costuma dizer. Depois de visitar a tribo ashaninka, Donato disse que os índios são “japoneses”.

O bicho vai pegar mesmo.

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