quinta-feira, 2 de junho de 2005

DEDO NO SUSPIRO


No século passado, precisamente em 1991, a família Melo, do ex-governador Flaviano Melo, o jornalista Sílvio Martinello e o radialista Roberto Vaz decidiram tirar de tempo o jornalista Elson Martins da composição societária do jornal A Gazeta.

Martins então decidiu vender a casa e o carro para ir viver no Amapá. Mas o jornalista Suede Chaves, um dos que ajudaram Martins a fundar o jornal Varadouro, se mostrava inconsolável com a decisão. Ele teve então a brilhante idéia de mediar um encontro de Martins com o empresário Narciso Mendes, dono do jornal e TV Rio Branco.

O plano de Chaves consistia em fazer com que Martins aceitasse a direção do jornal. E lá se foram para a mansão de Mendes, que usava apenas cueca para esconder as partes pudendas daquele corpo esquelético ao recebê-los.

A conversa foi breve em razão da objetividade do empresário, que disse com carregado sotaque potiguar:

- Elson Martins, o jornal é seu. Você assume a direção e eu não vou me meter em nada para influenciar a linha editorial.

Chaves, que sonhava se tornar o secretário de redação, olhou e sorriu feliz para o amigo. Mas a felicidade foi breve. O empresário caminhou até a porta e chamou três seguranças que estavam na varanda da casa. Quando os homens entraram na sala, ele arrematou:

- Elson, eu só quero fazer uma exigência para usar o jornal no momento adequado. Meus seguranças já estão avisados, mas vou repetir, na sua presença, a ordem que dei: quando vocês encontrarem por aí o jornalista Sílvio Martinello, aquele barbudinho da Gazeta, é para trazê-lo até aqui. Nós vamos pegá-lo, enfiar um cabo de vassoura na bunda dele e tirar fotos para que sejam publicadas no jornal.

Assustado, Martins conseguiu sinalizar ao Chaves para que tirassem o time da mansão do empresário. Martinello foi avisado e se livrou de ser espetado porque inventou uma viagem ao Recife.

Esse é o empresário que clamava ontem por liberdade de imprensa num evento organizado pelo Sindicato dos Jornalistas, que contou com a presença do secretário de Comunicação Aníbal Diniz. O fato é que ninguem citou um caso sequer de censura durante o debate.

Dos empresários de comunicação no Acre, Narciso é o único que independe do governo, mas sua TV e o jornal não dispõem da menor capacidade e credibilidade para apurar e publicar os supostos casos de corrupção na administração estadual que seu proprietário alardeia tonitruante em conversas de esquina.

Seus dois veículos, que estão prestes a fechar, reduziram a agressividade por dois motivos: o excesso de ações judiciais por conta do conteúdo injurioso e porque o empresário no fundo sonha que o governo, o maior cliente da mídia, possa enfim tirar o dedo do suspiro.

Triste fim para o dono de um jornal que redigiu a manchete "PT sequestra empresário Abílio Diniz", que previu o assassinato de Chico Mendes e fotografou o corpo dele crivado de chumbo e para quem demitiu e agrediu fisicamente o jornalista Antonio Alves por ter escrito que é uma insanidade alguém substituir a floresta por pasto.

Narciso, que abria com pontapés as portas dos gabinetes de governadores para ditar o preço que o erário deveria pagar na farra de suas empresas, agora está sem mandato e sua companhia é recusada por antigos aliados.

Detém as virtudes de estar sempre aberto ao debate ou bate-boca e de se desfazer facilmente do rancor que nutre por seus desafetos. Além disso, é o melhor redator de seus dois veículos de comunicação.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Altino,
Todos aqui estamos tristes pela Mel...
Quanto ao texto, repara que não há uma "familia Melo" na política do Acre (como acontece com os Santiago, Viana, Macedo, Betão, Oliveira, entre outras). Tem o Flaviano e o Zé, que desistiu da política e de quem não há como relacionar com o caso relatado.
Abraço,
R.Feres.

Anônimo disse...

O passado está em tua memória. Antes que teu corpo parta uma dia, deixe esse passado em livros para que eu, por exemplo,tenha conhecimento.

Anônimo disse...

A diferença Altino é que esse energumeno do Narciso é um malufista convicto e o teu amigo Aníbal era um revolucionário jornalista defensor da liberdade de informação e da democracia. O primeiro continua o mesmo malufista e o segundo se tornou um ditador e censurador de meia tigela. Pergunte ao senador Mesquita e a metade dos jornalistas acreanos, que ja foram vítimas desse cidadão.