quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

VIVA HÉLIO MELO

PINTOR DA FLORESTA

Certo dia, Kátia e eu encontramos o artista
Hélio Melo no centro da cidade. Ela então encomendou uma tela. Chegou a sugerir que o velho seringueiro pintasse apenas uma árvore que expressasse a sua visão do que é a floresta. Sempre que o encontrávamos, perguntávamos se a tela estava pronta. Nunca estava. Até que, mais ou menos em maio de 1994, o encontrei outra vez no centro da cidade. Segurou-me pelo braço e foi arrastando-me e contando histórias até sua casa, no bairro da Base.

Hélio Melo havia comprado um computador e queria que eu o ajudasse a operá-lo. Passei várias horas ensinando-o e ouvindo suas histórias e piadas. Sua maior admiração foi com a opção clicar e arrastar. Quando viu os arquivos sendo transferidos de uma para outra pasta, ele adaptou o deverbal de rebolo:

- Hummm! O bicho arrebola, né?

Aproveitei a ocasião para saber se a tela estava pronta. Ele disse que sim. Pegou uma pilha de cartolina e tirou uma. Era a tela acima, na qual escreveu uma dedicatória antes de assiná-la:

- Para Kátia, um pedaço da mata.

Escrevo esse nariz-de-cera ao anunciar com exclusividade: na próxima edição da Bienal Internacional de São Paulo, de 7 de outubro a 17 de dezembro, com o tema "Como Viver Junto", o Acre vai mecerer uma ampla abordagem.

Ela se dará através de uma exposição do pintor Helio Melo e do trabalho de três artistas estrangeiros que deverão passar por um período de residência de um a três meses no Acre. Os artistas vão desenvolver trabalhos que deverão ser exposto na Bienal, estabelecendo intercâmbio cultural com as instituições locais através de atividades (oficinas e palestras).

Como os três artistas se interessam por questões sociais ou ligadas diretamente à extração de látex e da cultura da borracha, pessoas e instituições podem se preparar para oferecer apoio à empreitada. Quanto à mostra do pintor Helio Melo, a Bienal está a procura de colecionador ou galerista que possuam suas obras.

Após o Carnaval, estará em Rio Branco o produtor cultural Bartolomeo Gelpi, da Fundação Bienal de São Paulo, a instituição que promove as Bienais Internacionais de Arte e de Arquitetura de São Paulo, além de representações brasileiras em Bienais de outros paises.

Ninguém retratou tão bem a paisagem acreana e o cotidiano do homem na floresta como Hélio Melo, que também era músico autodidata, compositor de choros, valsas e marchas. Sua técnica consistia em usar nanquim e tintas naturais sobre papel cartão. A tinta era elaborada pelo próprio artista, mediante a extração de sumo de folhas vegetais.

Clique aqui para saber mais a respeito do genial Hélio Melo em entrevista à jornalista Cristina Leite na revista "outraspalavras", onde ele afirma:

- Então, como aprendi sem professor, pode me chamar de pintor da floresta. Porque só quem viveu lá dentro é capaz de descobrir os mistérios da natureza através dos nossos irmãos índios, donos da floresta.

Eu não entendo porquê a gente deixou morrer Hélio Melo e a revista, duas expressões da acreanidade. Existe tanto lixo que merece ser varrido do mapa e a gente tropeça nele todo santo dia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Puxa! eu que sempre quis ter um quadro de Hélio Melo, depois da Bienal vai ficar impossível comprar. Viva Hélio Melo! (Mas essa Kátia é mesmo muito chique, hein?)

Anônimo disse...

Infelismente a cultura ainda anda abadonada, fui ao lixão deixar os meus, já que o carro semanal do lixo passou mais de duas semana sem nos atender, e imagina só! encontrei dous obras de arte intacta, uma do grande e magnífico Hélio Melo e outra do Rivas Plata, molhados, mas deu para recuperar; estão os dois lado a lado em minha parede, na sala de jantar.

Anônimo disse...

Não conheço artista mais completo que Hélio Melo. Pena que o Acre não o valorizou. Suas obras retratavam o que estamos vivendo hoje, "O aquecimento Global"