
E Marques contou que estava com 20 anos idade quando a direção da revista Manchete decidiu destacá-lo, na companhia de um fotógrafo, para uma reportagem sobre a distante Rio Branco, capital do Acre.
Entre os várias entrevistados, Marques conversou com o bispo italiano Giocondo Maria Grotti, que dois anos depois morreria durante acidente aéreo no município de Sena Madureira.
Ao ser perguntado sobre os problemas que enfrentava na região, o bispo reclamou da doutrina do Daime, fundada pelo negro maranhense Raimundo Irineu Serra.
Marques decidiu conhecer o mestre Irineu Serra, que trabalhava no roçado de sua propriedade quando o jornalista foi visitá-lo.
- Aquele encontro foi a experiência mais marcante de minha vida. O mestre Raimundo disse que sabia que eu chegaria e estava me esperando. Disse o meu nome, que eu havia sido libertado recentemente da prisão e que eu tinha uma cicatriz na perna.
Marques contou, ainda, que passou três dias no Alto Santo e tomou Daime, mas não revela detalhes de sua experiência.
—— Ele me disse que um dia eu voltaria ao Acre, mas jamais acreditei nessa possibilidade.
A revista Manchete publicou então várias páginas com a reportagem, onde prevaleceu na edição a versão do bispo de que se tratava de uma seita diabólica. Foi a primeira entre tantas a desagradar Irineu Serra e seus seguidores.
Ao terminar de contar sua história, o governador Jorge Viana mostrou ao jornalista o convite que recebera para participar hoje do festejo dos 50 anos de casamento de Irineu com Peregrina Serra. E convenceu o jornalista a permanecer mais um dia no Acre.
Marques reencontrou ontem dona Peregrina, viúva de Irineu Serra, a quem pediu desculpas pelo conteúdo ofensivo que sua reportagem ganhou na edição da revista.
—— Eu não podia revelar que havia encontrado Deus —— disse.
Quem quiser saber mais a respeito da passagem de Carlos Marques pelo Acre, deve pegar o livor "Verdade Tropical", de Caetano Veloso, e fazer uma leitura da página 308 a 319.
4 comentários:
Que história sensacional!
bela matéria, altino. essas histórias sobre as histórias do jornalismo são sempre úteis. acho que aquela edição da manchete ajudou a fazer a cabeça de muita gente.
Oi Altino. Boa matéria. Estive lá no mesmo horário da entrevista dele com a Madrinha. Vou procurar o Livro do Caetano. Abraço.
Preciosa matéria. Mestre Irineu Serra é bem especial, pra quem pode ver.
Quanto à Pregrina, quem for ao Congresso da Hosca vai assistir um Audiovisual feito especialmente para a ocasião: Mestre Pequenina e Peregrina. Eu não vou.
Ainda não encontrei a matéria da Manchete com a versão do Bispo. Estou em busca.
Mantenha o bom trabalho. Quem sabe pelo exemplo alguns outros jornalistas aprendem a fazer direito.
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