sexta-feira, 15 de setembro de 2006

40 anos depois

Estou passando avexado apenas para contar uma história do turbilhão de histórias resultante do encontro ontem com o quarteto da foto: o jornalista Antonio Alves, a cientista política Margrit D. Schimidt e os jornalistas Carlos Marques e Mara Moreira. Marques, que é consultor da Unesco e mora em Paris, retornou ao Acre após 40 anos. Anteontem, no final de uma audência com Jorge Viana, o governador perguntou ao jornalista se ele já conhecia o Acre.

E Marques contou que estava com 20 anos idade quando a direção da revista Manchete decidiu destacá-lo, na companhia de um fotógrafo, para uma reportagem sobre a distante Rio Branco, capital do Acre.

Entre os várias entrevistados, Marques conversou com o bispo italiano Giocondo Maria Grotti, que dois anos depois morreria durante acidente aéreo no município de Sena Madureira.

Ao ser perguntado sobre os problemas que enfrentava na região, o bispo reclamou da doutrina do Daime, fundada pelo negro maranhense Raimundo Irineu Serra.

Marques decidiu conhecer o mestre Irineu Serra, que trabalhava no roçado de sua propriedade quando o jornalista foi visitá-lo.

- Aquele encontro foi a experiência mais marcante de minha vida. O mestre Raimundo disse que sabia que eu chegaria e estava me esperando. Disse o meu nome, que eu havia sido libertado recentemente da prisão e que eu tinha uma cicatriz na perna.

Marques contou, ainda, que passou três dias no Alto Santo e tomou Daime, mas não revela detalhes de sua experiência.

—— Ele me disse que um dia eu voltaria ao Acre, mas jamais acreditei nessa possibilidade.

A revista Manchete publicou então várias páginas com a reportagem, onde prevaleceu na edição a versão do bispo de que se tratava de uma seita diabólica. Foi a primeira entre tantas a desagradar Irineu Serra e seus seguidores.

Ao terminar de contar sua história, o governador Jorge Viana mostrou ao jornalista o convite que recebera para participar hoje do festejo dos 50 anos de casamento de Irineu com Peregrina Serra. E convenceu o jornalista a permanecer mais um dia no Acre.

Marques reencontrou ontem dona Peregrina, viúva de Irineu Serra, a quem pediu desculpas pelo conteúdo ofensivo que sua reportagem ganhou na edição da revista.


—— Eu não podia revelar que havia encontrado Deus —— disse.

Quem quiser saber mais a respeito da passagem de Carlos Marques pelo Acre, deve pegar o livor "Verdade Tropical", de Caetano Veloso, e fazer uma leitura da página 308 a 319.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que história sensacional!

Anônimo disse...

bela matéria, altino. essas histórias sobre as histórias do jornalismo são sempre úteis. acho que aquela edição da manchete ajudou a fazer a cabeça de muita gente.

Anônimo disse...

Oi Altino. Boa matéria. Estive lá no mesmo horário da entrevista dele com a Madrinha. Vou procurar o Livro do Caetano. Abraço.

Anônimo disse...

Preciosa matéria. Mestre Irineu Serra é bem especial, pra quem pode ver.

Quanto à Pregrina, quem for ao Congresso da Hosca vai assistir um Audiovisual feito especialmente para a ocasião: Mestre Pequenina e Peregrina. Eu não vou.

Ainda não encontrei a matéria da Manchete com a versão do Bispo. Estou em busca.

Mantenha o bom trabalho. Quem sabe pelo exemplo alguns outros jornalistas aprendem a fazer direito.