quinta-feira, 7 de junho de 2007

MANUELA CARNEIRO DA CUNHA

"A Universidade da Floresta virou
um campus burocrático"


A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, professora na Universidade de Chicago, é um dos principais nomes no âmbito internacional quando o assunto é Amazônia. Ela e o marido, o antropólogo acreano Mauro Almeida, professor da Unicamp, já não demonstram o mesmo entusiasmo em relação ao projeto da Universidade da Floresta.

O centro de ensino chegou a ser anunciado como pioneiro porque pretendia construir uma ponte entre os saberes dos professores das cidades com os mestres da floresta. Sonhava-se com um novo modelo para as pesquisas científicas sobre biodiversidade, com respeito à pluralidade cultural da região e aos direitos das comunidades indígenas, seringueiras e ribeirinhas.

Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Almeida não conseguem mais esconder a insatisfação com os rumos que a Universidade da Floresta está tomando após dois anos de existência. Eles foram os organizadores da Enciclopédia da Floresta, considerado o mais completo compêndio sobre a cultura, hábitos e saberes das populações indígenas e comunidades de seringueiros da região do Alto Juruá.

O campus avançado da Universidade Federal do Acre no qual se transformou a idéia original da Universidade da Floresta se distancia cada vez mais do sonho de reunir cientistas e pajés, valorizar os saberes tradicionais e as alternativas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, sem deixar de atentar para os mecanismos de proteção à biodiversidade da região e aos conhecimentos dos povos nativos.

Ouça a entrevista com a professora Manuela Carneiro da Cunha, gravada na manhã de quarta-feira, em Cruzeiro do Sul, durante um dos intervalos da reunião regional da SBPC. Participou o jornalista Flamínio Araripe, que escreve para o Jornal da Ciência.

9 comentários:

Fora disse...

Cadê o Tião agora, para sustentar a idéia da Universidade com o mesmo esforço que sustenta furar o buraco la no Juruá? Cadê? Cadê? Se bem que é melhor para a Universidade ele ficar por fora.

Arison Jardim

Anônimo disse...

Altino, Parabéns pela matéria e obrigada por nos informar! Realmente é uma pena que a UFAC não reconhece e não põe em prática as possibilidades de um trabalho em conjunto com os Povos da Floresta, trazendo estes uma riqueza enorme em conhecimentos.

Abraços,

Eliane Fernandes
Universidade de Bremem - Alemanha

Anônimo disse...

Fico cada vez mais triste que tenham trazido doutores e mestres de várias regiões do país para este cantão da Amazônia chamado Cruzeiro do Sul, para construir uma Universidade nova e em vez de apoio, chove críticas e mais críticas.

Vamos falar do Kampo, montei um grupo de 4 alunos e 4 doutores para iniciar pesquisas com venenos de anfíbios... mas... o pedido de licença no IBAMA a meses está em análise, e com a greve, estamos travados sem poder dar um passo... no final... tive de dissolver o grupo e enviar 1 aluno para trabalhar com bioinformática, 1 com limnologia, 1 com SinBio e outro vai trabalhar com sementes... pois bem... e agora?
Atualmente, para um pesquisador iniciar seus trabalhos, não basta estar na maior biodiversidade da Amazônia, está obrigado a pedir permissão para trabalhar...
Ainda sequer estamos na nossa estrutura definitiva, nossos laboratórios ainda estão em licitação...
O Professor universitário precisa consequir sua estrutura para fazer suas pesquisas, seja com biodiversidade, seja com indígenas, seja com ribeirinhos, estamos batalhando para consequir recursos de todas as fontes possíveis para atender as espectativas da comunidade, no entanto, precisamos é de apoio $$$$$$$$$$$$, e acredito que isto vamos consequir.
Uma coisa a se pensar. Em 1 ano consequimos (somente os professores) aproximadamente 1,2 milhão em projetos! Então, a quem interessa esta campanha difamatória contra a Universidade da Floresta?

Anônimo disse...

Leonardo, deixa de ser mané. 1,2 milhão os meninos do petismo-vianismo gastam em Black Label e outras coisinhas.

Anônimo disse...

Estimado Altino

Bom dia.
Acompanho desde a sua chegada a Cruzeiro do Sul a cobertura do encontro,
de sua parte e de Flamínio Araripe (Jornal da Ciência ).
Pergunto-me, ao ler o desabafo da notável antropóloga Manuela Carneiro
da Cunha: o sonho acabou? Num momento tão importante para a valorização
da ciência da floresta? Numa hora em que o País não deve mais adiar a
questão das patentes de seus medicamentos naturais e da exploração
racional de sua biodiversidade quando há risco de perdê-la para
estrangeiros.
E os ensinamentos indígenas que ensejariam novo modelo de pesquisas
científicas? E os saberes dos professores, mesclados aos dos pajés? Será
que a Universidade Federal do Acre vai reagir diante da iminente perda?
Logo agora que o conhecido sociólogo João Vieira, fundador das
universidades federais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul começava a se
deslumbrar com essas possibilidades e se oferecer para contribuir nessa
união de esforços pela ciência e pela floresta. Joãozinho adoeceu há
meses e está em recuperação, Daí, talvez, não poder marcar presença em
Cruzeiro do Sul.
João foi criador do Museu do Índio, em Cuiabá, e há mais de um ano não
falava em outra coisa a não ser a Universidade da Floresta. Pena.

Anônimo disse...

Caro Altino,

A quiestão se complica pelos interesses políticos e principalmente por lutas para que egos estejam em evidência. Nas disputas de egos nunca o coletivo sai ganhando.
Eu comentava com o Damolin que a parte mais difícil, no que se refere à educação escolar indígena, é conseguir utilizar os caminhos tradicionais de transmissão de conhecimentos de cada povo e reconhecer que a nossa ciência ocidental não se basta.
De qualquer forma penso que vale a pena insistir no projeto e acreditar na boa vontade dos envolvidos. O primeiro passo deve ser o diálogo aberto e o reconhecimento de possíveis "desvios".

Bom trabalho.

Lindomar Padilha

Anônimo disse...

08/06/2007 | 0:00

Raposa no galinheiro
O presidente da Assembléia Legislativa do Acre indicou um deputado para participar de uma banca examinadora de currículo e de entrevistas, em um "concurso simplificado" para contratar 630 agentes de segurança.

claudiohumberto.com.br

Anônimo disse...

Ouvi mais de uma vez a entrevista da professora de Chicago para ver se conseguia entender o teor da sua crítica aos rumos da "Universidade da Floresta". Não sei se ando meio burro ou o que é. Mas não consegui entender o que é novo reclamdo pela professora, principalmente, quando, já no final da entrevista, diz que determinada experiência era extraordinária e completa: "os índios tinham o que ensinar, criaram uma escola para ensinar os brancos". Será que o novo para a professora seria isso? Ou o novo seria o fato dos ashaninkas estarem "negociando créditos de carbono"? Não sei não. Mas parece mesmo que a professora gostaria de ver a experiência da universidade da floresta se converter num grande e permanente projeto de pesquisa etnográfica. Pelo menos para ela seria o máximo. Daria muitos papers para apresentar nos seminários nos states.

Anônimo disse...

Quando os ataques pessoais começam, o debate naufraga. Acaso será exatamente uma imoralidade apresentar trabalhos em congressos internacionais? Não é bem pior rebaixar o nível do debate e da discussão com essa acusação de que quem não é de dentro da casa tem necessariamente que estar de fora, ainda que tenha contribuído com a construção dela? As pesquisas etnográficas no Juruá, e que isso fique bastante bem registrado, tiveram início há bastante tempo (com seringueiros, Ashaninka, Kaxinawa, Katukina e outros), quando não se tinha "enxoval" para chegar até aqui.