sexta-feira, 6 de julho de 2007

CANA-DE-AÇUCAR NA AMAZÔNIA

Lula erra em Bruxelas ao dizer que a plantação do país "fica muito distante da Amazônia, região que não se presta à cultura"

Caso lessem os relatórios do seu próprio governo, conhecessem as ações de seus próprios ministérios e dos governos estaduais administrados por seu próprio partido, os assessores poderiam contribuir para dar ao presidente Lula e ao Brasil mais credibilidade quando ele fala no exterior. Não foi o que ocorreu ontem, em Bruxelas, quando Lula fez um pronunciamento na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, para uma platéia formada por ministros, empresários e ONGs do mundo inteiro.

Lula disse que o cultivo da cana-de-açucar no Brasil ocupa menos de 10% da área cultivada do País, ou seja, menos de 0,4% do território nacional. "Essa área – é bom que se diga – fica muito distante da Amazônia, região que não se presta à cultura da cana", afirmou, tendo acrescentado que "se a Amazônia fosse importante para plantar cana-de-açúcar, os portugueses que introduziram a cana-de-açúcar no Brasil, há tantos séculos, já o teriam feito na Amazônia". Lula chegou a agradecer aos antepessados de uma dupla portuguesa presente na solenidade "por não terem utilizado a Amazônia para produzir álcool nem açúcar".

Mal assessorado, Lula gera constrangimento com declarações desencontradas quando repete frases de assessores da Casa Civil. Na Amazônia, já existem usinas de porte expressivo em Presidente Figueiredo (AM), Ulianópolis (PA), Arraias (TO), além de meia dúzia no Mato Grosso. De acordo com o último levantamento oficial da Conab, um órgão do Ministério da Agricultura, de maio deste ano, na safra passada houve mais de 19 milhões de toneladas de produção de cana-de-açucar na Amazônia Legal, entre Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Amazonas e Pará.

Ainda não consta no documento a produção do Acre, isto é, da agroindústria Álcool Verde, pertencente ao Grupo Farias, que os políticos petistas do "governo da floresta" consideram como o grande trunfo de investimento. Uma antiga usina, que jamais havia produzido álcool, foi revitalizada com dinheiro público e privado. O investimento já atinge mais de 2 mil hectares de cana-de-açucar plantados ao longo da BR-317. O ex-governador Jorge Viana, que preside o Fórum Empresarial do Acre, já anunciou que uma segunda usina será instalada na região.

É falso o mito de que o cultivo da cana-de-açúcar é inviável na Amazônia. De acordo com o relatório da Conab, a produtividade média na região amazônica é de 70 toneladas por hectare, bastante próxima à media nacional de 79 toneladas, e muito superior àquela de estados como Alagoas e Pernambuco, que são grandes produtores tradicionais de cana, e que apresentam, respectivamente, produção de 63 e 52 toneladas por hectare.

Um dia antes de afirmar que o cultivo de cana fica muito distante da Amazônia e que a região não se presta à cultura da mesma, o jornal Diário do Pará noticiou a assombrosa quantidade de pessoas libertadas numa única operação de repressão ao trabalho escravo no país. Blitz do Grupo Especial Móvel encontrou 1.108 trabalhadores em condições degradantes de trabalho em uma fazenda de propriedade da empresa Pagrisa (Pará Pastoril e Agrícola S.A.), em Ulianópolis. Os trabalhadores dormiam em alojamentos superlotados e trabalhavam na colheita de cana-de-açúcar.

Uma matéria do jornal espanhol El Mundo diz nesta sexta-feira que a União Européia não quer "etanol sujo" do Brasil. Leia no site da BBC.

7 comentários:

Anônimo disse...

O cara escuta tanto o Jorge e ainda não sabe disso?

Anônimo disse...

é isso ai...em casa de ferreiro, espeto de ...

Anônimo disse...

Altino, acho que vocês estão muito enganados ao imaginar que o presidente Lula desconheçe a produção de álcool no Acre.
Na minha avaliação o Presidente foi muito esperto ao afirmar que a cana-de-açúcar produzida no Brasil não vem de áreas localizadas na Amazônia, tolos são vocês que acham que ele afirmaria que um Governo do PT apoiaria a instalação de usinas de álcool na Amazônia, ainda mais com essa onda de protecionismo ambiental, principalmente se o ambiente for no quintal dos outros.

Anônimo disse...

Olá Altino!!
O truque presidencial é ele estar falando pros gringos e não para a militância que defende a natureza e seus recursos. O pau ia pegar. Já ví que valem mais os heróis e as picanhas no pescoço, além de todas as consideraçoes que emitiu sobre o MP, os ambientalistas..., vejo tb que o basta já devia ter sido dado faz tempo pelo Povo. Mas,... assim caminha a humanidade e os muares da vida pública nos conduzem, não se sabe pra onde. Vamos publicar teu blog em nossa página, pois és merecedor de que todo o país saiba deste canal de informações do norte do Brasil. Pedimos sua autorização. Envie para osverdestapes@gmail.com
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Abraços

Julio Wandam
Os Verdes de Tapes/RS

Angela Ursa disse...

Olá, Altino! Eu tinha visto sua matéria sobre a cana-de-açúcar no site Amazonia.org.br. Coloquei a matéria no meu blog para ajudar na divulgação. Acho importantíssimo discutir isso porque o aumento dos canaviais e das queimadas está grande. Aqui no interior de SP, o ar da cidade onde moro está ficando muito poluído por causa da fuligem das queimadas. A Secretaria do Meio Ambiente daqui está tentando de tudo, mas há uma lei estadual que permite queimadas nos canaviais até 2025. Pode uma coisa dessas? Abraços da Angela Ursa

Anônimo disse...

Caro Altino Machado, acredito sim que se possa produzir cana na região amazônica. Porém, a questão aqui é a forma com que se deseja fazê-lo. Acho que o que o Lula quiz dizer é que não se desmatará nenhuma área para o plantio dessa cultura e que ela ficará concentrada nas áreas em que se tradicionalmente já é produzida. Como sabemos existe uma pressão/temor muito grande da ocupação de áreas de preservação com culturas para produção de etanol e biodiesel ... foi aí que nosso presidente quiz acalmar o público em geral.
É o que eu acho!

Anônimo disse...

pois é como tanta sabedoria caraca meu