segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

CARTA ABERTA

A situação dos indígenas da região de Cacoal (RO)

Os índios cinta-larga mantêm cinco pessoas sequestradas em Rondônia - o procurador da República, Reginaldo Trindade, um membro do Alto Comissiariado da ONU, dois funcionário da Funai e uma mulher não identificada. Os índios aceitaram uma reunião para negociar fora da reserva indígena Roosevelt. Leia a carta aberta assinada por Henrique Iabday Suruí, coordenador do Fórum Paiter Suruí:

"Há sete anos, desde a descoberta da jazida de diamantes dentro da terra indígena Roosevelt, pertencente ao povo Cinta-Larga, e a conseqüente invasão das terras pelos garimpeiros, que a situação tornou-se um barril de pólvora, trazendo conseqüências desastrosas para garimpeiros, indígenas e a população em geral.

Durante esse tempo, várias autoridades visitaram o garimpo, conversaram com as lideranças Cinta-Larga, muitas promessas foram feitas e nada de consistente foi realizado.

Nós, os grupos indígenas da região não temos alternativas sustentáveis de renda em nossas terras, muitas vezes cedendo a pressão de garimpeiros e madeireiros para sobreviver. Temos nos mantido unidos procurando formas de autonomia, através de nossas associações, para que possamos desenvolver projetos que garantam nossa sobrevivência, sem a necessidade de dilapidar nossas riquezas naturais.

Na ocasião do contato e nos anos posteriores, não nos foi ensinado a preservar o meio ambiente. Fomos incentivados a vender madeira e outros recursos naturais pela própria FUNAI. Ao ingressarmos na sociedade envolvente, tivemos que vestir roupas e nos calçar, nos acostumamos a consumir produtos que não achamos de graça em nossa floresta. Para isso, dependemos agora de dinheiro, o que não acontecia antes do contato. Apesar disso, nossas terras são as mais preservadas do planeta. As terras que estão aos nossos cuidados são as que garantirão o futuro das gerações. Contudo, a recompensa que temos é o descaso do Governo Federal, através do órgão que nos tutela, a FUNAI. Sabemos que o governo apóia projetos de manejo florestal em terras particulares, porque não apoiar em terras indígenas? Porque não nos ajudar a preservar mais ainda as nossas terras, oferecendo renda para as comunidades indígenas e garantindo a perpetuação de nossa fauna, flora e recursos naturais?

No dia 08.12.2007, sábado, foi marcada uma reunião com as lideranças Cinta Larga e Suruí, o Procurador da República no estado de Rondônia, Dr. Reginaldo Trindade, o representante da ONU, sr. David Martin, para buscar maneiras de solucionar ou mesmo minimizar o efeito dos problemas pelos quais os povos indígenas da região estão passando. Numa maneira de chamar a atenção para a gravíssima situação pela qual estamos passando, numa forma de tentar resolver os problemas urgentes, estamos mantendo detidos dentro da aldeia o procurador e o representante da ONU, com a firme decisão de não liberá-los enquanto as autoridades responsáveis não atenderem às seguintes reivindicações:

1 - Retirada da Polícia Federal das barreiras de acesso às aldeias, para que se garanta o direito de ir e vir dos índios. A ação da Polícia Federal é mais forte em cima dos índios, na verdade os índios são discriminados, são revistados e constrangidos. Há algumas propostas para resolver isso, como a colocação da FUNAI nas barreiras, mas os índios são firmes em não querer mais a presença da Polícia Federal;

2 - Reestruturação da Administração Executiva Regional de Cacoal, com a nomeação de um administrador definitivo, pois há vários anos só temos administrador substituto. Dentro desta reestruturação, precisamos de um procurador aqui em Cacoal, e não de estagiários, para que se possa rever a situação dos processos contra os Cinta Larga e pedir a imediata suspensão dos mesmos;

3 - Volta do Grupo Tarefa Cinta Larga;

4 - Elaboração e execução de projetos de alternativas sustentáveis para a população indígena da região: Cinta Larga, Suruí, Mequéns, Apurinã, Kwazá e outros;

5 - Reaviventação dos limites das áreas indígenas da região;

6 - Implantação de políticas que garanta uma educação de qualidade.

7 - Revogação da portaria 2656, que repassa aos municípios a responsabilidade da prestação dos serviços de saúde indígena.

8 - Não queremos a liberação do garimpo em terras indígenas".

8 comentários:

. disse...

Que tal pegar os Cinta-Larga e fazer um passeio pelo mundo... assim o governo lucra.. cobrando ingresso para quem quiser ver os indios ... e as terras ficam sob responsabilidade de quem sabe se utilizar dela... os madereiros e os garimpeiros... essa seria a melhor solução para todos

Saudades do Acre disse...

Impressionou-me profundamente o vídeo em que aparecem líderes indígenas, partidários de Evo Morales, enforcando e decapitando a sangue frio cães inocentes e indefesos, transformando esses pobres animais em “bodes expiatórios” de uma sanha sem limites contra seus adversários políticos.
Sempre nutri e nutro, até por conta de minha ascendência indígena, um carinho especial, um venerando respeito pela pureza e altivez de espírito dessa classe de irmãos e sua luta pela reintegração dos direitos solapados por uma colonização branca centenária.
Sentimentos sublimados pela forma pacífica e democrática com que o líder Joaquim Tashka procura conduzir-se, ao defender a causa de seu povo Yawanawá.
Depois dessa barbárie, porém, ao menos em relação aos indígenas bolivianos, reavaliarei cuidadosamente estes sentimentos, em função do que se passou hoje em minha casa.
Absorvido pelas cenas enquanto assistia ao vídeo infame através do Blog do Altino, não me dei conta de que havia um pequeno intruso por trás da cadeira, assistindo também aquelas cenas proibitivas de selvageria. Era o João Guilherme, meu “fim de rama”, de 5 anos, que me acordou da letargia, quando me perguntou assustado: -“Painho, quem são esse calas que tão fazendo isso com os cacholinhos?”
Apanhado de surpresa, fechei rapidamente o notebook e, meio sem norte, resumi na bucha: -“São os bolivianos, meu filho...”.
Em seguida, enquanto eu acendia o cachimbo pra relaxar, que ninguém é de ferro, ele desapareceu numa carreira doida no rumo do quintal, aparentando certo aperreio.
Antes que eu desse a segunda tragada, tava de volta com Kiara e, abraçadinho a ela, como quem quer proteger uma irmã menor de um risco iminente, indagou preocupado: -“Painho, tem boliviano pulaqui?”.
Kiara é nosso “anjo da guarda”, fêmea de Pastor Alemão, há três anos na família. E já promete fazer uma surpresa a qualquer um daqueles assassinos que errarem o próprio endereço e entrarem por engano em nosso quintal. De preferência à noite. Serão degolados a dentadas. Ela só respeita seres humanos.

Cruzeirense disse...

Me desculpe...

Mas vocês não lembram mais das reportagem sobre esses garimpos? Os índios vendendo diamantes e direito de exploração? Eles são os mais safados de todos.

Quem quiser comprovar, basta ir lá, oferecer dinheiro que eles mesmo vendem as pedras.

ô racinha, essa de índios.

Saudades do Acre disse...

Coca-cola e Leandrius. A corda e a caçamba.

Unknown disse...

Interessante o comentário do anônimo "saudade do acre". A parte final, então, é um primor. Depois de desancar os "indígenas" bolivianos, propõe que reagirar da mesma forma que eles: os degolará a dentadas de sua cadela.

Agora, vamos pensar. Depois de, apenas ver, a léguas de distância, um ato de brutalidade, selvageria gratuita contra os cachorros reage assim, imagina o que poderão querer fazer os indígenas dessas regiões, eles mesmos degolados a golpes de sabre pelos colonizadores em busca de outro e prata. Hoje, nem os golpes de sabre são mais necessários: morrem de fome, abandono, frio.

Unknown disse...

...desculpem pelo "reagirar".

Saudades do Acre disse...

Um primor de retórica a sua, Mário. Quase tão interessante quanto meu comentário. Pena que peque por excesso de sofismas. Você se refere às degolas com golpes de sabre, como se esses golpes tivessem sido desferidos ontem, embora provavelmente as pretensas vítimas atuais desconheçam até quem foi Pizarro, o que não justifica, portanto, aquele terrorismo desnecessário, sacrificando animais indefesos apenas para impressionar seus adversários políticos. Que tal agirem de forma mais civilizada e democrática? Quanto às léguas que nos separam do fato em sí, esse sim, ocorrido ontem, não o eximem da negativa relevância. Longas distâncias não são argumento consistente para validar massacres, seja de pessoas ou de animais.
Finalmente, caro Mário, quero confessar que eu seria incapaz de degolar uma galinha de terreiro. Ao ler meu comentário com um pouco mais de atenção, voce verá que a decisão de degolar os bolivianos dentro do quintal, foi apenas uma personificação, figura de retórica que utilizei para tentar exprimir a revolta e as decisões de um animal irracional diante do massacre de seus semelhantes. Decisões que democráticamente respeitei, assim como respeito sua discordância, embora nâo concorde com ela. Aproveitando uma cadeira na qual você é mestre, Mário, peço-lhe um grande favor: Me economize, meu caro!

Unknown disse...

No meu comentário, afirmo que o fato seria "um ato de brutalidade, selvageria gratuita contra os cachorros".

Também afirmo que "Hoje, nem os golpes de sabre são mais necessários: morrem de fome, abandono, frio."

Pois é, democraticamente, a civilização que dominava a região andina foi sendo destroçada, até a situação miserável sob a qual vivem hoje a totalidade dos seus remanescentes.

Sofismas? São fatos históricos. Pretensas vítimas? Ao lados das populações africanas, as populações andinas são as vítimas verdadeiras do dito "processo civilizatório" que inventou as bases das práticas da democracia que você defende. Uma democracia que serve bem na defesa de interesses de quem manda. A partir daí, vale até a tortura, como a que praticam, nos porões das masmorras de Guantanamo, os líderes e defensores da democracia ocidental.

Tem muita gente que seria incapaz de "degolar" uma galinha, mas, não dispensa uma na cabidela, nem um churrasco no final de semana.

...pois é, assim como de boas intenções, também, figuras de retórica enchem o inferno.