segunda-feira, 17 de março de 2008

O BLOG E THE NEW YORK TIMES

Valério Gomes

O assassinato do representante governamental Julio García Agapito (leia), ocorrido pertinho do Acre, no povoado Alerta, no Peru, foi noticiado neste blog na semana passada e não teve a menor repercussão no Acre ou no Brasil, mas hoje é destaque na edição do jornal americano The New York Times, o mais influente do mundo.

Será que o assassinato de quem luta em defesa da floresta precisa sair no The New York Times para que depois alguém se manifeste, como aconteceu com a morte de outros lideres, incluindo o sindicalista Chico Mendes?

A verdade é que o movimento de luta tão divulgado no espírito dos movimentos sociais do Acre está sem rumo. Parece que estão mais preocupados com as recentes notícias de trazer grupos de música internacionais para celebrar os 20 anos de morte do seringueiro de Xapuri.

Tudo se transformou em algo simbólico no Acre. Parece que ninguém mais atenta para o que de fato está acontecendo no dia-a-dia das pessoas comuns que ainda lutam para resolver problemas, que apesar do tempo de luta, parecem ser os mesmos porque as raízes são as mesmas. Ninguém mais quer olhar para as raízes, mas comer o fruto.

As indagacões da historiadora Fatima Almeida (leia) nos mostra esta estagnação acontecendo no Acre. O que precisa acontecer para que as autoridades atuais pelo menos manifestem suas preocupações com o que está acontecendo do outro lado da fronteira? Sim, em parte, a ameaça é movida pelas mesmas forças econômicas implantadas no Acre, que agora tendem a se intensificar em outras áreas de fronteira da Bacia Amazônica.

A política brasileira para integração com a América do Sul é defendida no Acre, tendo como símbolo a Estrada do Pacífico. Mas sabemos que não existem iniciativas governamentais para mitigar os impactos dessa e de outras megas iniciativas de desenvolvimento para a região em ambos os lados da fronteira.

Então é de se esperar que os conflitos sobre uso dos recursos naturais se intensifiquem na região. Como a historiadora assinalou tão bem, a "ponte humana" não faz parte das precupações das autoridades locais. O que precisa acontecer para alguém se manifestar?

Espero que a sociedade ou ao menos a historiadora Fatima Almeida tenha alguma resposta para as indagações que apresenta.

Valério Gomes é pesquisador acreano. Clique aqui para ler no jornal The New York Times o texto de Andrew Revkin.

2 comentários:

Elpydio disse...

Realmente lamentável. Vou acompanhar mais o assunto aqui.

lindomarpadilha.blogspot disse...

Caro Altino,

Fátima nos chama a atenção para uma realidade que não está distante. Devemos tera nossas mentes e corações sempre em espera. Este ano é o ano Chico Mendes, por causa de sua morte há vinte anos atrás. Devemos ter esse espírito vivo em nós. Não bastam palavrinhas bonitas. Somos chamados a assumir a luta com seus louros e consequências.

Bom trabalho

Lindomar Padilha