quarta-feira, 2 de abril de 2008

ILZAMAR E O MITO

Conversei hoje ao telefone com Ilzamar Mendes, viúva do líder sindical e ecologista Chico Mendes. Pareceu perplexa com a repercussão de sua entrevista neste blog, quando disse que "mataram os ideais do Chico".

Contou que a Folha de S. Paulo e a revista Veja têm telefonado na tentiva de obter uma entrevista, o que poderá servir para aumentar a repercussão das críticas que fez contra os antigos companheiros do seringueiro.

O PT e o "governo da floresta" do Acre conduzem uma operação para impedir avaria maior em suas imagens. Torcem e fazem de tudo para evitar que a viúva repita as críticas num dos grandes veículos de comunicação, especialmente na revista Veja.

Júlia Feitosa, a assessora do governador Binho Marques que controla o virtual Comitê Chico Mendes, conversou ontem demoradamente com Elenira Mendes, a quem apelou para que convença a mãe a desistir das críticas. A filha de Chico Mendes disse que respeita o ponto de vista da mãe e que não tem poder para controlá-la.

E é verdade o que Elenira Mendes respondeu, pois Ilzamar me pareceu disposta a conceder a entrevista para a Veja. Mas disse que não fará isso por telefone. Quer que alguém, de preferência uma repórter, venha até ao Acre para a entrevista.

Pois bem, em nome do governador Binho Marques, a assessora Júlia Feitosa sugeriu um encontro dele com Ilzamar, na chácara da viúva, na rodovia AC-40. Elenira transmitiu o apelo, mas a mãe recusou com o argumento que todos no governo sempre a subestimaram e a trataram com desprezo.

- Não quero nada que seja um cala-boca, como tem acontecido há 20 anos. O ex-governador Jorge Viana foi quem melhor me tratou, mas estava sempre mais preocupado com o meu silêncio. Depois da entrevista pro seu blog, o pessoal do governo está preocupado mesmo porque sabe dos milhões que arrecada com projetos que só falam no nome do Chico.

Ouvi de uma fonte ligada ao governador Binho Marques que a viúva teria sido injusta durante a entrevista porque o governo estadual estaria colaborando para quitar uma dívida de R$ 80 mil da Fundação Chico Mendes, organização da qual Ilzamar Mendes é presidente.

- É mentira deles, pois esse débito nunca existiu.

Uma entrevista de Ilzamar Mendes num grande veículo de comunicação, no mesmo tom da que deu a este blog, pode significar o avanço das fronteiras agrícolas sobre a floresta. Grandes empresas interessadas em grandes obras na Amazônia costumam usar a mídia para bombardear qualquer avanço de iniciativas de defesa da floresta.

Mas se se admite isso, é porque os ideais do Chico Mendes só servem para se obter recursos financeiros em projetos com aquela finalidade? Pode-se argumentar, ainda, que o compromisso deve ser com a verdade. A verdade é que os ideais do seringueiro morreram? Teremos que ir aos seringais do Acre para ver o que acontece? Ou vamos manter uma ideologia para garantir o mercado? Isso seria traição ao Chico, ao Acre, à história.

A questão é muito delicada. E, queiramos ou não, Ilzamar ainda é uma referência dentro e fora do país quando o assunto é o mito Chico Mendes.

3 comentários:

Anônimo disse...

Em que medida a viúva de Chico Mendes contribuirá para sua causa e para a defesa da Amazônia dando entrevista para uma Veja da vida? Será que ninguém tem peito o suficiente para mostrar a ela que a revista vai fazer o possível (e impossível) para deturpar tudo o que ela vai falar para tocar seu projeto político de minar o governo Lula, custe o que custar?

Vai virar marionete nas mãos dos falcões da Veja...

Anônimo disse...

Parabéns pelo furo de reportagem, Altino.
Finalmente alguém de repercusão teve a moral de mostrar as coisas como realmente são.
Abração.
Alex Pereira
Lins - São Paulo

Anônimo disse...

Deixem que ela fale.
Seja na Veja, seja onde for.
Onde já se viu calar a única voz que ainda é capaz de dizer o que Chico Mendes realmente acreditava? Certamente era ela a única que dividia com ele, nos mais diversos momentos, suas angustias, expectativas e desejos. Não basta ficar dando o nome de Chico Mendes em tudo que é coisa ligada à preservação. É necessário que haja cada vez mais integração entre os envolvidos diretamente com a história do Chico, o governo municipal, estadual e o federal.
Só assim poderemos ampliar o reconhecimento do Acre como berço dos ideais deste saudoso brasileiro em sua mais verdadeira concepção.
Em qualquer lugar deste país quando se fala de Acre se lembra de Chico Mendes, então é mais que justo que sua bandeira seja no minimo respeitada, já que ele literalmente morreu por isso.
O Acre obviamente não é somente o Chico, é uma região importante do Brasil. Mas respeitar seu passado histórico, é resgatar seu povo, suas características e garantir respeito da nação no presente e no futuro.

Que isso se resolva logo!!!

Grande abraço

Claudio Prado Jr.
Jornalista