domingo, 6 de abril de 2008

PRESERVATIVO AMBIENTAL


O secretário estadual de Floresta, Carlos Ovídio Resende (à esquerda), não teve descanso no domingo. Passou metade do dia sendo entrevistado pelo jornalista inglês Jonathan Spaull e pela fotógrafa Verônica Barbosa. Ambos estão no Acre para reportagem sobre a Natex, a fábrica de preservativos que será inaugurada nesta segunda-feira em Xapuri.

Tenta-se implantar uma indústria estatal que funcionará à base do extrativismo, do artesanato da borracha. O extrativismo já foi suplantado há muito tempo no Acre. As fábricas do sudeste produzem borracha química e por isso conseguem colocar um produto barato no mercado.

Quem ainda produz borracha no Acre?

Sabemos que nas reservas extrativistas não se produz mais isso. O negócio agora é a criação de gado. Os seringueiros estão mais para vaqueiros. Existe até "seringueiro" com rebanho de 300 cabeças dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes.

Embora pareça insustentável, o jeito é torcer para que o projeto experimental da indústria Natex dê certo. Saiba mais sobre a fábrica na Agência de Notícias do Acre. Vale a pena, ainda, conferir os comentários hilários sobre a fábrica no site Globo Online. Se fossem no meu blog, o mundo cairia.

3 comentários:

Unknown disse...

Altino, por que "artesanato da borracha"?

ALTINO MACHADO disse...

Caro Mário, você é doutor em economia, professor. Com certeza sabe que o extrativismo é mesmo um artesanato. É feito com as mãos e todas as suas etapas são manuais, desde o corte da seringa até a defumação.

Unknown disse...

Caro Altino

Devo te confessar que não sabia dessa identidade entre “artesanato” e “extrativismo”. Como disseste, em tua mensagem, de fato, tenho lido, nos últimos anos, sobre economia política, e, neste campo, mais assiduamente, leio sobre a questão do desenvolvimento econômico e social das nações. Desde os meus estudos de graduação, esse campo, foi destacando-se pelos meus interesses nas questões regional e agrária, temas das minhas preocupações de acreano, vivendo a juventude ainda nos anos sessenta e setenta.

Além dos campos da economia política, tenho particular interesse pelos campos da História, muito, por conta das minhas posições de método as quais requerem que cuide de entender os processos históricos sociais das categorias, formas de ser. Também faço algumas incursões pela sociologia, pela filosofia, antropologia, ou seja, ainda sou muito atento aos campos que podem ajudar-me a avançar numa compreensão das questões da humanidade e ajudem-me enquanto um ativista político.

Devo te confessar que, sinceramente, não consigo achar a tal identidade entre “extração” e “artesanato”. Há, evidentemente, a possibilidade de entrelaçamento de sistemas produtivos que possam envolver tais categorias – devemos lembrar que se trata de formas de organização das atividades humanos. Com os desdobramentos históricos, essas formas sofrem mutações, combinam-se entre si ou com outras e vão construindo os momentos da história.

Mas, veja, se as consideramos, como de fato são, formas de organização das atividades humanas, como eu disse, elas se diluem numa terceira categoria: forma de organização das atividades humanas. Dito assim, diluem-se, é bem claro que quando ampliamos tanto a compreensão das duas categorias, dos dois conceitos, eles sumiram. Perderam uma das suas propriedades qual seria a de oferecer uma visibilidade das particularidades que as tais denominações tendem a oferecer sobre a organização das atividades produtivas dos homens.

Para assumir a tal identidade, você, também, realizou tal exercício de esticar os conceitos em abrangência com base no fato de se referirem, ambos, às atividades realizadas com as mãos. Tecnicamente falaríamos que você esticou a “extensão” do termo, quando ampliou os objetos aos quais o termo se aplica (no caso, você procedeu da mesma forma em relação ao extrativismo e ao artesanato). Necessariamente, temos que considerar o outro lado da mesma moeda: o “conceito” expresso pelos termos considerados, ambos termos exprimem representações conceituais o que, tecnicamente, denomina-se de intensão do termo. Quando dizemos, por exemplo, “extrativismo amazônico”, estamos reduzindo a extensão do termo singular, extrativismo, na medida em que falamos de uma particularidade efetivada num determinado espaço geográfico. O mesmo poderíamos dizer quanto ao artesanato.

Há, portanto, um amplo espaço a ser preenchido na determinação da intensão. A extração é um ato de apropriação do que é realizado pela natureza: extração de látex, no caso do extrativismo da borracha. Ou seja, o homem apropria-se dos “frutos da natureza”. O artesanato corresponde a outros momentos do fazer humano: neste caso o homem transforma matérias que podem ser naturais ou não. Exerce suas “artes” dando forma nova de maneira que as matérias se adéqüem às necessidades e desejos humanos. Feito com as mãos, mas, processos distintos, diferentes.

Quando desenvolvi o ensaio que apresentei como tese de doutoramento tive a reação de alguns mais puristas quando avanço a idéia de que, ao chegar ao Acre, a economia da borracha funda uma “produção” ao dar ao trabalho uma nova forma de organização social, as formas de controle social que avançam a partir da apropriação privada da terra e criar os assentamentos humanos. Na base do processo de trabalho estava o extrativismo.

As tramas das relações que apoiaram este espaço social é o que denomino de “seringalismo” – forma de organização social da atividade produtiva - apoiado num modo de extração – que articula o “exclusivo seringalista”.

Talvez pudéssemos avançar na compreensão dos atrasos a que foram submetidas as populações regionais para desenvolverem o “artesanato”. Há pistas em diversos estudos sociológicos, principalmente, quando tomamos o as bases sociais do “exclusivo seringalista” (nada se produz no Acre, segundo a vontade do barracão, apenas se extrai borracha – castanha pode porque é durante as chuvas) e o “isolacionismo”.

Quanto ao significado – intensão – temos outras considerações e, a meu juízo, é neste aspecto que as coisas se complicam como resultado da esticada que promovestes.

Pois é, caro. Não há a tal identidade, a meu juízo. Um não é o outro, são noções diferentes.

Aliás, a minha pergunta decorreu da impressão de que falavas da fábrica de camisinhas quando te referias a artesanato

[fiquei quase quatro dias em acesso a internet - por culpa ta Telefónica que fornece um péssimo serviço de acesso e cobra caro por isso - por isso, respondo a tua mensagem agora].