sábado, 22 de maio de 2010

TEMOS O DUNGA

José Augusto Fontes

A Copa do Mundo de Futebol de 2010 está chegando. Após quatro versões com ele (em 1994, no banco), neste ano não teremos Ronaldo Nazário, o maior artilheiro de todas elas. Também não teremos Ronaldinho Gaúcho, duas vezes eleito o melhor jogador de futebol do planeta. Eles estiveram no nosso time, na última vez em que ganhamos. Neste ano, vamos ter que torcer por um tal ‘esquema de jogo’, pelo ‘sistema defensivo’ e pela sorte. Nosso treinador pensa mais em defender do que em atacar. Mas ele tem uma sorte danada, apesar de turrão. E o Brasil é o Brasil! Pelo menos, nossa defesa é muito boa e nosso goleiro é seguro. Como não temos muitos craques, vamos esperar que dê certo o jogo essencialmente coletivo, como já aconteceu muitas vezes em Copas do Mundo, até mais do que conquistas atribuídas a jogadas destacadas de craques, pois em times pouco competitivos, só o craque não vence. E mesmo em times bons, tivemos craques que não ganharam. Zico, Platini, Falcão, Cruyff ou Eusébio (moçambicano que, jogando por Portugal a Copa de 1966, foi artilheiro com 9 gols, dois deles marcados contra o Brasil, na vitória por 3 x 1), não ganharam Copa. O time fabuloso brasileiro de 1982 voltou sem a taça; o time da Holanda em 1974 encantou, mas também não ganhou (além de outra excelente composição da Holanda posterior, que também não ganhou, com Frank Riijkaard, Rudd Gullit e Marco Van Basten – este um dos maiores centroavantes do mundo que vi jogar).

Já o Brasil de 1994, ganhou daquele jeito, com placares espremidos, sem jogadas espetaculares, escapando alguns lances do Bebeto e do Romário, além da falta cobrada pelo Branco, e ganhamos a final nos pênaltis. Levamos sem dar show e sem grandes craques de criatividade no meio-campo, que estava povoado de volantes e marcadores, dentre eles, o Dunga. Tudo me leva a crer que ele gostou da fórmula e a adotou na função de técnico, como sempre, com ensaiada irritação e sem mínimo jogo de cintura. O Dunga é o cara! Esse negócio de Ganso, Pato, Neymar, Hernanes (excelente jogador), Ronaldos e craques, ele não ta nem aí. Nem é com ele!

Em outra configuração, há seleções com jogadores hábeis e com jogo de equipe vistoso. Vou mencionar duas seleções com craques e com jogo coletivo de alto nível. O exemplo mais notório, dentre campeões do mundo, é o Brasil de 1970. Aquele time reuniu vários talentos da melhor qualidade, em todos os setores do campo, e dentre os talentosos, escalou craques incomparáveis, como: Tostão, Gérson, Jairzinho, Carlos Alberto, Rivelino, Clodoaldo e Pelé, para citar os que marcaram gol. E muitos marcaram, exatamente por causa do bom jogo coletivo, que privilegiou a equipe e fez sobressair os craques. Outro extraordinário exemplo é a Argentina, de 1978. Apesar de alguns atalhos para o título, aquela era uma seleção espetacular, desde o goleiro. Além do Pato Fillol, a Argentina tinha Passarela, Tarantini, Ardiles, Luke e Kempes. Este último é um capítulo à parte. Foi o maior craque e artilheiro daquela Copa. Mário Kempes foi dos melhores jogadores que vi atuar em Copa do Mundo e seu nível de habilidade só é comparável a destaques como Maradona, Tostão, Rivelino, Zico, Zidane, Cruyff, Bob Charlton, Eusébio, Ronaldo e Platini. Melhor que ele, só do naipe de Pelé. E Pelé é Pelé, não tem naipe!

Agora em maio, fiquei sabendo que os ingleses elegeram os dez maiores gols em Copas do Mundo. Dentre eles, há três gols brasileiros. Um do Pelé, um do Josimar e o mais bonito de todos, eleito pelos ingleses, foi aquele do Carlos Alberto, em 1970, fazendo 4 x 1 na Itália. O do Maradona, em 1986, ficou em segundo lugar. Essa escolha premiou o jogo coletivo de alto nível. Naquele, da conquista do Tri, foram sete passes, até o Pelé tocar de lado para o nosso capitão, no oitavo toque, e o Carlos Alberto fuzilar o goleiro italiano Dino Zoff, enquanto eu, ainda menino, ouvia pelo rádio, sintonizando a rádio Globo ou a Mundial, alternadamente, me contendo por causa das freiras italianas que estavam na varanda da casa do meu avô. Mas na hora do quarto gol do Brasil, as freiras que me perdoem, acho que gritei: Pega, puto!

Agora é 2010. Vamos torcer pelo Brasil, imaginando o Dunga como pensador e craque, e a nossa seleção como a melhor possível. Eu preferia o Hernanes, no meio-campo; o Marcelo, na lateral-esquerda; um Ronaldinho etc... E você? Tudo bem. Em próximas competições, o Brasil logo terá o André (atualmente no Santos), em quem eu aposto para o nosso futuro ataque. Se o Brasil deste ano fracassar, quando o Dunga cair, estou imaginando que o Ricardo Teixeira (que não cai tão cedo), vá colocar como técnico o Ricardo Gomes (atualmente no São Paulo). Aí vai começar tudo de novo. Entra Ganso, sai Pato, e a paixão do brasileiro continua firme. Como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 vai ser no Brasil, é no nosso time que eu aposto para a próxima Copa, sem pestanejar. Nesta, de 2010, vou torcer sem apostar, ou vou acreditar desconfiando e vou até pestanejar. E você, vai aplaudir o Dunga?

Sobre craques, eu aposto em três: Wayne Rooney, Lionel Messi e Xavi. Na frente destes três, o Cristiano Ronaldo não se cria. Outro craque para apostar é o Kaká, mas não sabemos se ele estará em condições totais de jogo. E sobre promessas boas, aposto na Espanha (que vive prometendo, mas não cumpre), na Inglaterra e na Argentina. Outro time capacitado é a Holanda de Sneijder, Robben e Van Bommel. Contudo, em respeito à nossa paixão pelo futebol; considerando o pequeno medo que os adversários ainda têm de nós; e reconhecendo que o nosso time, se não encanta, é competitivo, posso até não apostar, mas torço pelo Brasil. O hexa será bem-vindo e tudo será festa! Tudo bem, eu sei que há muito quem duvide...

No mais, sempre cabe alguma surpresa. É só lembrar da Grécia, que conquistou o título europeu em 2004, tendo sua maior arma no banco, o técnico alemão Otto Rehhagel (ele continua por lá). E falando em surpresa, na África do Sul tudo vai ser novidade. É a primeira Copa em gramados africanos. Também para os anfitriões, a melhor parte da seleção parece estar no banco (o nosso Parreira). O país está longe de ter a estrutura vista em mundiais recentes, como Alemanha (2006), Coréia do Sul e Japão (2002), França (1.998) ou Estados Unidos (1994). Os níveis sociais do país-sede são baixos e o sistema de transportes, por exemplo, é muito deficiente. Sobre os estádios, vamos esperar pra ver. E vendo, vamos torcer. É praxe no futebol dizer que o que vale é dentro das quatro linhas. Ou o que vale, é bola na rede. Sendo assim, bola pra frente. As outras coisas são pequenos detalhes.

E assim sendo, torço também por gols bonitos e por jogadas espetaculares. Temos grandes atletas habilitados. Exemplos: Diego Forlán (Uruguai), que foi artilheiro do Campeonato Espanhol em 2009; Roque Santa Cruz e Valdez (Paraguai) que vão procurar suprir a impossibilidade de contar com Cabañas, com jogo autêntico, e vão deixar de lado as réplicas paraguaias; Drogba e Salomon Kalou, ambos do Chelsea, junto com Yaya Touré e Eboué (todos da Seleção da Costa do Marfim), não vão facilitar, principalmente para o Brasil, que está em seu grupo; do mesmo jeito, Portugal, com os hábeis Cristiano Ronaldo, Simão, Nani, Liédson e Deco (os dois últimos, brasileiros naturalizados); Thierry Henry e Ribéry (França) são hábeis notórios e vão aparecer bem; Higuaín, Di Maria e Messi (Argentina), junto com Tevez e Aguero, devem encantar e convencer. Precisando, vão ter o Mascherano pra bater; Rooney, Gerrard e Lampard (Inglaterra) vão sacudir e abalar, pois são craques; Ballack, Podolsky e Ozil (21 anos, campeão europeu sub 21, em 2009) querem o tetra para a Alemanha; tem também Essien e Muntari (Gana) e Samuel Eto’o (Camarões), que querem dar ritmo ao mundial; há um fantástico trio na Holanda, composto por Sneijder (Inter de Milão), Robben (Bayern) e Van Bommel (Bayern), sendo lamentável que o Seedorf (Milan) não tenha sido chamado para formar um quarteto; a Espanha tem craques à vontade, como Xavi, Iniesta, David Villa e o goleador Fernando Torres. Eles esperam prometer e cumprir; nós temos Kaká (será que vai estar pronto?), Luís Fabiano, Robinho, Ramires e Nilmar. Temos também uma boa defesa e o tal esquema defensivo. Vamos torcer e empurrar pra frente! E há a Itália, que quer, porque quer, conseguir o penta. Os italianos querem igualar-se ao Brasil. Contam, para isso, com a competência de jogadores como Pirlo, Gilardino, Camoranesi, Iaquinta e o bom goleiro Buffon. Os italianos têm o mesmo técnico campeão de 2006, Marcelo Lippi. E nós, temos o Dunga!

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre

Um comentário:

Anônimo disse...

O juiz José Augusto mostrou profundo conhecimento do futebol, gostei muito do texto, mas vou discordar quanto ao Messi, acho que ele será tão marcado nessa Copa que será anulado em campo igual a todos os jogos dele contra o Brasil.