segunda-feira, 5 de novembro de 2007

AGENDA DA INTEGRAÇÃO NA FRONTEIRA

Opinião de um leitor anônimo:

"É um equívoco conceber como um ato heróico ou individual as ações do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que há duas décadas, completadas este ano, chefia a Frente de Proteção dos Isolados no Alto Rio Envira. Se ele está sozinho neste momento, deve-se ao total descaso do governo federal (e por que não dizer do governo estadual).

O trabalho do Meirelles deveria ser visto como importante componente de uma política de fronteira e as questões dos isolados e da proteção do meio ambiente como questões cruciais no relacionamento com o governo peruano.

É pena que nossos políticos só consigam ver a "integração" como sinônimo de grandes obras de infra-estrutura (estradas e energia) e do crescimento das relações comerciais (para produtos que nem temos).

Enquanto isso, a ilegalidade come solta na fronteira, e os madeireiros (nos rios Envira, Amônia e no Parque Nacional da Serra do Divisor) por ora fazem a festa, invadindo o território brasileiro, detonando a floresta e colocando em risco índios (inclusive isolados) e outros moradores da região.

Para que existe mesmo um batalhão de fronteira do Exército instalado há quase dez anos em Santa Rosa? Cadê o apoio que em várias ocasiões o governo do Acre sinalizou em dar ao Meirelles?

Vai precisar matarem um mateiro no alto Envira (se matarem isolados só os urubus vão ficar sabendo) para o governo e os políticos do Acre se mobilizarem, dizendo-se muito preocupados com a integridade da fronteira, com os índios e com o Meirelles e sua turma?

Além de recursos e apoio institucional para a Frente de Proteção no alto Rio envira e da vigilância da fronteira, iniciativas diplomáticas se tornam cada vez mais necessárias.

Não adianta os representantes dos governos federal e estadual se encontrarem com os peruanos durante as festas pelo avanço da Transoceânica, ou deputados acreanos fazerem viagens de turismo pela estrada até o Pacífico, apenas para tirar fotos e falar dos grandes benefícios que a integração trará.

Tratar de questões como a segurança da fronteira, a proibição das atividades ilegais feitas por madeireiros, a proteção dos índios isolados também deve fazer parte da agenda da integração".

4 comentários:

Anônimo disse...

Altino, comentário nada a ver com o post:
Vc já viu as placas de outdoor que estão sendo postas lá no BEC (de frente para a Av. Nações Unidas)? Pode publicidade privada em espaço público??? Sei que não é sua alçada mas é que esse blog já virou mesmo ombudsman... ;-)

Anônimo disse...

O primeiro parágrafo do texto está truncado. Fiquei curioso para saber em que sentido da concepção das ações do Meireles pode constituir um equívoco.

O resto do texto é interessante. Falta mesmo uma concepção do que queremos de fato fazer com o Acre. Nesses dias, o que há mesmo é muita confusão e tiroteio para todos os lados quando a questão é desenvolvimento regional. E, no andar da carruagem, floresta, índios, rios, tudo isso está sendo considerado impecilho ao desenvolvimento. Faz algum tempo, o presidente da Federação da Agricultura divulgou uma teoria segundo a qual haveria uma relação inversa entre floresta e desenvolvimento. Assim mesmo, de forma direta e rasa. Então, teriamos mesmo era que desmatar, poluir, queimar. Para completar, o governo que desenvolveu uma idéia do Acre da Florestania (seja lá o que isso signifique), resolveu embarcar nas promessas dos grandes empreendimentos agropecuários: rodovias transoceânicas (sei lá o que é isso), alcool verde, frigoríficos,etc. Isso quando existem possibilidades de um modelo de exploração agropecuário muito mais compatível com as idéias ambientalistas. Não se trata de utopias. Já existem bases científicas e tecnologias capazes de apoiar um modelo acreano capaz de considerar a incorporação das populações excedentes e evitar o desperdício das bases naturais de recursos. Mais ainda: assim, como faz o governo do Amazonas com a preservação florestal é possível seguir outros caminhos e também obter ganhos mesmo efetuando o uso do solo.

Mas é rpeciso que nossas lideranças políticas sejam motivadas a olhar para outra direção que não a da acumulação capitalista, a dos grandes empreendimentos capitalistas. Temos que pensar em termos de bem-estar social para a população regional e não na construção de grandes empresas capitalistas.

Anônimo disse...

Uma correção, feita pelo anônimo cuja opinião acabou destacada pelo Altino. A primeira frase, agora correta, é: "É um equívoco conceber como um ato heróico ou individual as ações do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que há duas décadas, completadas este ano, chefia a Frente de Proteção dos Isolados no Alto Rio Envira". Deu para entender agora o duplo equívoco?

Anônimo disse...

O que é fundamental é que as ações do Meireles são de um tipo pouco praticadas na atualidadae: são ações engajadas, visando o bem comum, o bem-estar social, a defesa dos direitos de minorias pouco consideradas pelo vandalismo de um desenvolvimento a qualquer custo. São ações que valem muito mais que discursos ambientalistas em auditórios refrigerados porque voltadas para a construção de alternativas para o que nos resta de humanidade, ou seja, de respeito por nós mesmos e de capacidade de nos reconhecermos em cada outro indivíduo em qualquer situação do mundo. Desse sentimento de reconhecimento nos fala muito atitudes e ações como a de Meireles. Isso já nos bastaria para que construíssemos um movimento a partir dessa denúncia - que não é a primeira e, lamentavelmente, não será a última - visando pressionar, cobrar daqueles que desconsideram a necessidade e a importância do trabalho desenvolvido pelos agentes da FUNAI, em situações como as que prevalecem na região acreana.

O próprio Meireles não se mostra como herói de coisa nenhuma, simplesmente, pelo que dele se sabe, resolveu dedicar sua vida a essa atividade esquecido por quem deveria apoiá-lo. E esse apoio não lhe é devido, apenas, pelos governantes. Nós mesmos, que nos dizemos a sociedade, é que faltamos no apoio a ele.